Entrevista com o Secretário Geral da Infância Missionária, PE. Patrício Byrne, SVD
1. A Obra da Infância Missionária nasceu em um determinado momento histórico. Para poder chegar até os nossos dias, teve de se adaptar? De que maneira?
Em cada movimento deve haver uma evolução. No início, o Bispo fundador, D. Carlos Forbin-Janson estava pensando somente nas crianças da China. Posteriormente, o movimento adquirirá uma dimensão universal. Ao longo destes 160 anos, a Infância Missionária espalhou-se por todas as regiões do mundo. Tudo isto acarreta uma adaptação. Sem dúvida, temos alguns projetos na China; contudo, em virtude dos diversos problemas históricos e políticos, eles não são tão numerosos como no passado. Em contrapartida, contamos com muitos outros projetos em inúmeras regiões do mundo. Outros eventos importantes foram o Concílio Ecumênico Vaticano II e as mudanças que se seguiram, entre elas, a diminuição do número de irmãs religiosas nas escolas católicas. Desta forma, perdeu-se um pouco o interesse pela Infância Missionária, que era vigoroso precisamente no âmbito das escolas em geral. Penso, por exemplo, no caso dos Estados Unidos da América. Hoje em dia, em contrapartida, estamos desenvolvendo nesse País uma forte animação missionária, de maneira especial para que as pessoas compreendam que a Infância Missionária constitui um modo dinâmico de trabalhar com as crianças e com os jovens. E em tais momentos podemos constatar, em quase todas as regiões do mundo, um interesse renovado pela Infância Missionária.
2. Por que, em determinados ambientes eclesiásticos, a Infância Missionária não é muito conhecida?
Um problema que notei, primeiro ao longo dos meus anos como Diretor Nacional no Equador e, agora, como Secretário-Geral, é que existem sacerdotes e Bispos que não receberam uma formação missionária ad gentes. Eles seguiram cursos de dogmática, de espiritualidade, de moral, etc., mas sem qualquer referência à realidade missionária da Igreja. Se tivessem estudado esta realidade da Igreja, conheceriam o grande protagonismo da Infância Missionária, prestando uma ajuda moral e econômica a inúmeras crianças, nestes 160 anos de existência. Encontro-me com sacerdotes, na África, por exemplo, que estão conscientes de ser presbíteros porque, desde o princípio, desde a escola primária, receberam uma certa ajuda, primeiro da parte da Infância Missionária e em seguida, no seminário, da parte da Obra de São Pedro Apóstolo. Contudo, ao mesmo tempo, também encontro outros presbíteros que nem sabem que foram beneficiados por esta ajuda. Por isso, para mim, trata-se de uma questão de formação. Temos de continuar a insistir para que, em todas as regiões do mundo, nos nossos seminários, se ensine a missiologia. A missão é uma tarefa que compete a todos.
3. A espiritualidade da criança acompanha as tendências da secularização, o racionalismo, etc., como nos adultos, ou segue caminhos que lhe são próprios?
Na minha opinião, em cada geração manifestam-se novas tendências, e as crianças são influenciadas por elas. Nos nossos tempos modernos, nem sempre é fácil falar com as crianças, especialmente no mundo ocidental. Este ambiente, às vezes, é pós-cristão. Todavia, mesmo em tais casos, se apresenta uma mensagem positiva, uma mensagem que sensibiliza os corações, as crianças respondem. Acho que devemos ser maduros e ver a espiritualidade da criança de hoje dentro do contexto da secularização e de todas as outras grandes mudanças destes tempos. Devemos ajudar a criança a ver a realidade do seu mundo moderno, mas sempre, por sua vez, apresentando-lhe o compromisso fundamental com Jesus Cristo.
4. A partir de que idade é possível participar da Infância Missionária, e até quando? E depois?
Depende, como sempre, de cada país, mas em geral as crianças começam a percorrer seu caminho na Infância Missionária com cinco anos de idade, e ali continuam até completar 14 anos. Repito, poderá haver diferenças, em conformidade com os vários países. O que acontece, em seguida? Esta é uma boa pergunta, porque é precisamente esta idade que constitui um período difícil para o adolescente que, física e psicologicamente, passa por mudanças. Na América Latina temos um movimento chamado “Jovens sem Fronteiras” (Juventude Missionária). Além disso, contamos com a “Pré-Adolescência Missionária” (Adolescência Missionária). Através dela, trabalhamos vigorosamente com adolescentes de 12 a 16 anos, e levamo-los a assumir a responsabilidade de dirigir os grupos da Infância Missionária, e de experimentar a missão, ajudando em setores onde não há disponibilidade de sacerdotes. Na minha opinião, o problema é mais complicado nos países economicamente mais desenvolvidos. Trata-se de um aspecto da missão que devemos aprofundar muito mais, para podermos orientar os jovens que passaram pela Infância Missionária e que agora querem continuar seu compromisso missionário, mas que às vezes encontram dificuldades de organização, depois dos 14 anos de idade.
5. A organização e as características da Infância Missionária dependem de cada país, de cada diocese e de cada grupo?
Sim, mas ao mesmo tempo existe uma organização que é básica. As pessoas que querem trabalhar com a Infância Missionária devem adaptar-se a uma determinada filosofia de vida que temos em virtude da experiência adquirida desde o período de D. Carlos Forbin-Janson até hoje, mas obviamente deixamos uma certa liberdade a cada país, a cada diocese e a cada grupo. Normalmente, em um determinado país, pede-se que cada diocese siga um estilo análogo. De vez em quando, aqui no Secretariado Internacional recordamos às Direções Nacionais alguns elementos característicos da Infância Missionária, como por exemplo, o fato de que a própria Infância Missionária é claramente uma missão ad gentes. Existem muitos grupos que procuram realizar boas obras no seu próprio país, mas sem fazer qualquer referência à missão universal. Nós, pelo contrário, devemos estar sempre orientados para a dimensão missionária ad gentes da nossa Igreja.
6. A Ásia é o continente com a menor presença de cristãos. Ultimamente, o senhor realizou diversas viagens a essa região. Também a Infância Missionária é frágil no interior daquelas Igrejas?
Em primeiro lugar, devo dizer que, pelo que pude constatar durante minhas viagens, a Infância Missionária está crescendo em todas as regiões do mundo. Em todos os países verifica-se um esforço extraordinário, em vista de fazer com que as crianças conheçam e vivam a Infância Missionária. Nos últimos cinco anos, nossa filosofia consiste em insistir no estabelecimento da Infância Missionária com nossos Diretores Nacionais, tendo sempre em conta a situação local, mas falando sem timidez sobre a necessidade de compartilhar todas as potencialidades que oferece a Infância Missionária. Recentemente, viajei com maior frequência à Ásia, porque essa é a região do mundo que eu menos conhecia. Graças a Deus, em países como o Sri Lanka, a Indonésia, a Índia e a Tailândia, observei um grande progresso na animação missionária das crianças. Registra-se um progresso análogo também em outros países, como a Coréia, que contudo ainda não pude visitar. Por isso, não acho que a Infância Missionária seja frágil em tais regiões, mas é claro que esperamos um crescimento ainda maior em todo o continente asiático.
FONTE: www.vatican.va
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