domingo, 7 de março de 2010

Missão do Hospital Pediátrico Menino Jesus:

“No Haiti deixei o coração, quinze dias que marcaram para sempre a minha vida”

Roma (Agência Fides) – Em 30 de janeiro passado partiu para o Haiti o primeiro médico do Hospital Pediátrico Menino Jesus com a tarefa de ajudar nas emergências de saúde das populações vítimas do terremoto. Michele Salata, pediatra, colaborou para o Hospital Menino Jesus de Roma, com a rede de assistência criada nos locais do desastre natural. Voltando da viagem, o médico quis contar sua experiência. “O dia da saída de Porto Príncipe procurei imprimir em meu coração o rosto do maior número possível daquelas crianças. Deixar o nosso local de assistência Bouquet de fleur foi realmente difícil! Ali estavam muitas crianças em condições críticas, cuja vida está por um fio e para eles existem pouquíssimos recursos, basta um pequeno problema e tudo pode piorar. A cada dia dou uma volta mentalmente naquele local e vejo os olhos, as caretas, ouço o grito das crianças quando tinham fome.
Aqueles quinze dias marcaram minha vida para sempre. Estamos acostumados a ver tantas vezes tragédias na TV e nos jornais; todo este sofrimento parece quase normal, ou pior, é como se assistíssemos a um filme... depois, desligamos a televisão e voltamos à nossas vidas, cheia de comodidades e na qual nada nos falta! Quando, porém, nós estamos dentro daquele filme, as coisas mudam; eu peguei nos braços aquele menino que morreu; os olhos do prematuro que morreu penetraram em minha alma, pediram minha ajuda... e nós não conseguimos salvá-lo... Não tenho respostas para isso. À parte a história de nosso povo, as responsabilidades de nossos países nos tempos, ainda hoje existem milhões de pessoas, crianças, que vivem na mais total miséria, que não têm o que comer, que não sabem se seu filho, recém-nascido, conseguirá sobreviver, ou se uma banalíssima infecção o levará embora num piscar de olhos. Quantas vezes me vi desolado, impotente diante de crianças que estavam morrendo, e zangado por saber o que poderia fazer se estivesse aqui, enquanto ali, podia só olhar ou deixar o bebê nos braços da mãe esperando que, como um anjinho, ele voasse aos céu. “Tudo isso fica dentro de nós; e ao que parece, a tragédia não terminou”. (AP) (3/3/2010 Agência Fides)

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